Sentada, olhando para fora. Farol vermelho. Muro branco. Três moleques pretos de costas, mãos nas costas, costas nuas, olhos nus. Cabeças baixas, pés descalços. Mãos brancas fardadas vasculhando em seus corpos não se sabe o quê. Moh sol. Uma barraca de pipoca, doce, salgada e batata frita, das onduladas, não do saquinho, as outras, sem ranhuras. Homem com pelos nas mãos, tão brancos quanto os de sua cabeça. Olhos tristes. “Tem troco pra 10?”. Eu só queria voltar pra casa.
De pé, olhando para fora. Da janela suja, outro ônibus, parado na via contrária com viaturas à frente. No chão, dava para ver mesmo no escuro. Um corpo vestido de prata, como frango ao forno envolvido em papel alumínio. Poucos metros depois, atrás do ônibus, engarrafamento, buzinas, xingamentos. Talvez estivessem com pressa. Dor de cabeça. Luzinhas vermelhas passando rapidamente pela esquerda enquanto corpos pretos, em sacos-uniformes, entram pela direita comendo pipoca. Eu só queria chegar em casa.
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Débora Medeiros de Andrade
Psicóloga, Especialista em Educação. Mestranda em Ciências Humanas pelo Programa de pós-graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (Diversitas – FFLCH – USP), com pesquisas sobre educação, relações raciais e subjetividades. A relação com diversas linguagens artísticas traz cores ao meu trabalho, tanto na clínica quanto no desenvolvimento de projetos, eventos e materiais educacionais antirracistas, de forma articulada, visando ao desenvolvimento humano em diversos territórios.
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Essa preta escritora negra, faz parte da antologia PRETOS EM CONTOS – Volume 2.
Antologia preta de contos curtos que reúne narrativas de escritoras negras e escritores pretos brasileiros com diversas matizes literárias, com vários olhares e com heterogêneas escritas.
Publicado pela Editora Aldeia de Palavras
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