CRÍTICA TEATRAL:
ESPETÁCULO: “VIOLENTO”
Se você comparecer para prestigiar o espetáculo teatral “Violento” em sua temporada no SESC Consolação ou em qualquer outro local, vai se deparar com uma série de signos repletos de significados relevantes à realidade negra.
Desde o início presenciamos um único ator em cena (Preto Amparo) que nos leva por um caminho pelo qual nos perguntamos diversas vezes: onde isso vai dar? O que eles querem dizer exatamente? Qual a moral da história?
Esqueça as perguntas óbvias respondidas pelo formato antigo de muitas produções artísticas. “Violento” não tem absolutamente nada de óbvio e previsível.
Apesar de ser um monólogo, o ator Preto Amparo não tem a clássica “super interpretação” onde o ator, para cobrir buracos de tempo ou marcações de cena, exagera nas expressões de corpo e fala tentando desesperadamente ser entendido pelo público presente. com pouquíssimas palavras, seu trabalho é mais interno do que externo, trazendo assim um caleidoscópio de sentimentos que pode ser preenchido pelo sentimento semelhante de quem assiste e passou pelo que o personagem passa. Há que se elogiar Preto Amparo, que tem um ótimo domínio interno na sua função.
Não há muito o que se dizer sobre cenários e figurinos, pois maior parte do tempo o ator interpreta nu e o cenário inexiste, composto somente por alguns objetos de cena e algumas projeções de vídeo ultra significativas, o que faz muito sentido e abre a visão para a série de informações metafóricas que virão.
O ponto que mais brilha no espetáculo é sem dúvida a avalanche de símbolos que acompanha mensagens, sensações, lembranças e referências. As metáforas nos toca, comunica e especialmente o público negro, para quem o espetáculo parece ser feito, entende cada um desses signos, desde a perseguição do carro de polícia ao cidadão negro, no início, até a sensível e tocante entrega de flores seletiva.
A trilha sonora e a iluminação foram criadas com uma precisão que faz com que você esqueça que elas existam, sendo assim, são assertivas como técnica, pois no teatro não deve se sobressair e sim fazer com que a história brilhe.
Só nos resta então elogios à direção inteligente de Alexandre de Sena que desenvolve muito bem as várias cenas em torno de cada signo e ao conceito artístico da obra que valoriza mais sentimentos e sensações em torno do sofrimento negro do que acontecimentos e /ou uma dramaturgia linear.
Um instigante formato para comunicar àquele que não é negro sobre os sentimentos de o ser numa sociedade racista e também para espelhar, para quem é negro, nossas vidas.
Há melhor arte do que aquela que instiga?? Eu concluo que não!
Avaliação: ⭐⭐⭐⭐ótimo
Atuação Preto Amparo
Direção Alexandre De Sena
Assessoria Dramatúrgica Aline Vila Real
Preparação Corporal Leandro Belilo/Cia Fusion De Danças Urbanas
Assessoria Trilha Sonora Barulhista
Ilustração Cata Preta
Registro em Foto e Vídeo Pablo Bernardo
Assessoria de Imprensa Alessandra Brito
Produção Grazi Medrado
Duração: 50min
Fotos: Pablo Bernardo
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