Victor Carvalho
O Parlamento etíope confirmou já a nomeação do jovem e desconhecido Abiy Ahmed como novo primeiro-ministro, na esperança de que ele será capaz de colocar um ponto final nos protestos anti-governamentais que se têm multiplicado no segundo país mais populoso de África.
De origem oromo, novo chefe de Governo é visto como “reformador” que pode ajudar o país
Fotografia: DR
Após a eleição, Abiy foi imediatamente empossado no cargo sucedendo a Hailemariam Desalegn, que esteve em funções desde 2012 e que apresentou a demissão em meados de Fevereiro na sequência de protestos registados em todo o país e que já causaram várias centenas de mortos, sobretudo nas regiões de Oromia e Amhara.
No seu discurso de tomada de posse, o novo primeiro-ministro colocou como prioridade na sua acção a resolução dos problemas que a Etiópia tem com o seu vizinho, Eritreia.
Numa breve alocução, transmitida em directo pela televisão nacional, Abiy Ahmed apelou ao fim de “décadas de mal entendidos” com o seu vizinho.
“Apelo ao Governo da Eritreia para que se sente connosco à mesa para resolvermos as diferenças que nos separam” disse numa alusão aos conflitos fronteiriços entre os dois países, que duram há vários anos e que provocaram já cerca de 70 mil mortes.
Numa resposta imediata a este apelo, o ministro da Informação da vizinha Eritreia, Yemane Gebre Meskel, assegurou que “as relações entre os dois países não podem ser reatadas enquanto a Etiópia ocupar parte do nosso território”.
“Há muito tempo que a bola está do lado da Etiópia”, afirmou este responsável numa alusão a um conflito que dura há 16 anos e que tem a ver com a suposta ocupação de território eritreu por parte das forças etíopes.
“A paz, obviamente, é boa para os dois países, mas tem que ser cimentada no respeito pela lei internacional sublinhou Yemane Gebre Meskel.
O antigo primeiro-ministro, Hailemariam Desaglen, havia acusado a Eritreia de estar por detrás dos protestos anti-governamentais em todo o país como forma de obstar a uma governação inclusiva.
Uma boa reputação
Abiy Ahmed, 42 anos, antigo tenente-coronel do Exército etíope e director-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia local, tem a reputação de grande orador e de reformista. Trata-se do terceiro primeiro-ministro da Etiópia desde o fim da Junta Militar, em 1991. Em Fevereiro, a Etiópia declarou pela segunda vez o estado de emergência em dois anos no meio de protestos que levaram ao encerramento do comércio e de outras actividades comerciais e bancárias.
No último fim-de-semana, as autoridades governamentais etíopes indicaram que mais de mil pessoas foram detidas desde que o estado de emergência foi declarado.
Em 2015 e 2016, a Etiópia foi palco das maiores manifestações antigovernamentais dos últimos 25 anos. A repressão dos protestos fez 940 mortos, segundo a comissão etíope de direitos humanos, dependente do Governo.
A calma regressou ao país com a instauração do estado de emergência entre Outubro de 2016 e Agosto de 2017, embora os protestos se tenham repetido ocasionalmente o que levou ao seu prolongamento por mais um ano.
Os protestos têm por base o descontentamento das duas principais etnias do país, oromo (sul e oeste) e amhara (norte), que se consideram sub-representadas no partido que governa o país desde 1991, mas também na partilha de recursos e acesso a direitos e liberdades.
Esta sub-representação pode agora ser atenuada com a chegada ao poder de um “oromo” com reputação de reformista.
fonte:http://jornaldeangola.sapo.ao/mundo/africa/parlamento_confirma_novo_primeiro-ministro
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