O ferro criado pelos povos africanos, foi o que acorrentou por milhares de anos, é um dos elementos químicos da história mais rico dentre todos os da tabela periódica. O início de sua jornada se dá com os meteoritos, há quatro milênios a.C., pelos sumérios e egípcios. Eles usavam o metal para confeccionar pequenos objetos, principalmente pontas de lanças.
Uma das culturas que constituíram as civilizações da Antiguidade no continente africano foi a Nok, civilização que se desenvolveu na região da atual Nigéria, entre os anos 100 e 300 a.C.
Os conhecimentos sobre metalurgia trazidos por africanos e afrodescendentes no Brasil foi essencial nas lutas contra o escravismo. São também um testemunho material da organização socioespacial dos quilombos. Estudos arqueológicos no Quilombo de Palmares, por exemplo, demonstraram a presença de forjas e oficinas de ferro que permitiam a produção de artefatos sofisticados, que provavelmente eram utilizados para produção, mas também na guerra.
As sociedades africanas passaram a produzir armas de caça mais resistentes, eficazes e eficientes. As civilizações que tiveram contato com a metalurgia do ferro passaram a controlar o poder e a submeter outros povos da região que ainda não tinham contato com o metal.
A tradição ferreira africana foi uma das grandes responsáveis por introduzir a metalurgia em território brasileiro, empenhando técnicas, saberes e expressões. Esse domínio sobre os metais, como ferro e também ouro, era importante habilidade dos povos pertencentes ao grupo étnico e linguístico Akan, que, do sec. XV ao XIX, dominou a mineração e o comércio de ouro na região da África ocidental. Esse grupo inclui os Ashanti, os Fante, Nzema, entre outros, da atual região de Gana e Costa do Marfim.
Tendo em vista a presença africana como mão de obra especializada, porém escravizada na construção do país, vê-se sua influência espalhada nas fundições de gradis e portões pelas cidades.
Seus trabalhos preservaram memórias, gerando símbolos de resistências como, por exemplo, a variação do ideograma Adinkra, o “Sankofa” esculpidos pelos ferreiros africanos.
Sankofa pode ser representado como um pássaro mítico que voa para frente, tendo a cabeça voltada para trás, que carrega um ovo em seu bico, o futuro… Também se apresenta como um desenho similar ao coração ocidental. Trabalha a sabedoria de olhar para o passado e a busca de algo que foi ignorado ou esquecido, trazendo para o presente, a fim de construir o futuro. Este símbolo faz parte de um conjunto.
Este é um dos exemplos mais conhecidos da resistência esculpida em ferro e um dos mais conhecidos entre os povos vindos do continente africano.
Sobre o autor: Denilson de Paula Costa, é especialista em história cultural, membro da academia militar e coautor do livro “Encontros com a história e a cultura africana e afro-brasileira”.
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