Ela foi a primeira repórter negra do Brasil. Ela viajou o mundo fazendo reportagens pautadas pela criatividade que transformava matérias ‘comuns’ em trabalhos inesquecíveis. Entrevistou desde celebridades de áreas diversas (cinema, música, televisão, futebol, política etc.) até pessoas comuns, mantendo sempre o profissionalismo que era parte inconfundível do seu trabalho.
Estamos ‘falando’ da jornalista Glória Maria que nos deixou recentemente e causou (com razão) uma comoção nacional. Pessoas de todos os perfis, lugares e profissões choraram a morte da jornalista.
No meio desta comoção, é importante lembrar da grande representatividade de Glória Maria como mãe adotiva de duas meninas também negras: Laura e Maria. Ambas foram adotadas por ela na Organização do Auxílio Fraterno (OAF), instituição baiana na qual Glória era voluntária.
O fato de Glória que sempre foi corajosa e enfrentou inúmeras situações de racismo, inclusive de um ex-presidente brasileiro que deve ser esquecido por isto e por sua atuação nada louvável, tenha optado por adotar duas crianças negras tem um alcance excepcional.
Sua atitude que somente ressalta seu desejo natural de seguir o coração, como ela mesma disse tantas vezes, teve o mérito de ampliar sua própria noção de raça.
Quando optou por adotar Laura e Maria, irmãs, em 2009, Glória talvez sequer imaginasse o quanto sua decisão seria importante. Não só pelo gesto nobre em si, mas porque em um país ainda profundamente racista como o Brasil, as pessoas negras ainda continuam sendo tratadas de forma preconceituosa.
Como verdadeiro ícone da televisão brasileira, Glória Maria marcou gerações por seu talento e pioneirismo, e segue inspirando milhares de meninas (negras ou não) que sonham com uma carreira jornalística.
Mas talvez o maior legado de Glória Maria tenha sido mesmo sua coragem, seu desejo de viver de forma alinhada com seus valores, e adoção de suas filhas, sem sombra de dúvidas, comprova isto.
Em uma entrevista concedida ao programa “Roda Viva” em 2022, Glória afirmou o seguinte: “A gente tem que aprender a usar a nossa alma, a nossa inteligência, a nossa cultura pra tentar acabar com o racismo da maneira que cada um de nós conseguir e puder”.
Pois, a adoção das filhas, foi, com certeza, mais uma maneira que Glória encontrou de fazer isto.
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