Sábado passado minha tia faleceu. Não éramos tão próximas… Poderíamos ter sido se eu não tivesse deixado para o “qualquer dia vou aí te visitar”, me esquecendo de que a vida segue o seu curso e não o meu, e de que as pessoas vão embora. Um dia, o telefone vai tocar com a triste notícia: “fulano (a) partiu hoje”. E então, a gente se lembra de todas as vezes que disse ou pensou: “qualquer dia vou visitar fulano (a), qualquer dia vou aí te dar um abraço, qualquer dia…” Qualquer dia não tem data. Pode chegar daqui 10 anos, 5 dias, 1 hora ou o minuto seguinte quando o telefone toca ou a triste mensagem chega.
Quando a notícia chegou, me lembrei das poucas vezes que vi minha tia e a última foi quando colhemos e debulhamos andú juntas e ela disse sorrindo: “Tu nem parece baiana, menina, ‘tu dibuia’ muito devagar. Vou te ensinar”. E com as mãos hábeis de quem debulhou milhares de andú na vida, me ensinou rindo muito da minha inabilidade. Depois comemos um prato cheio dos grãos temperados.
Quando a notícia chegou eu fiquei triste. Falei com um amigo, naquele mesmo instante, que mesmo ela já tendo bastante idade, a morte é sempre triste. E a morte sempre vem. Um dia, infelizmente, vem.
Ontem eu fui ao centro da cidade, e o ônibus parou perto de um imenso ipê rosa florido, mesmo as flores não estando mais tão vivas, ainda era lindo. Frondoso. Olhei aquela árvore imensa e sempre que eu vejo um ipê florescer, se eu posso, toco em seu tronco e lhe agradeço pelo espetáculo, mas eu não pude fazê-lo ontem, eu estava dentro do ônibus e ainda faltavam muitos quarteirões até o meu destino. Mas, eu olhei aquela árvore e lembrei da minha tia: sempre que eu sei que alguém partiu eu penso que aquela pessoa já não verá mais os ipês e nem os girassois… Mesmo com a minha crença religiosa de que a vida continua lá do outro lado e que do outro lado as árvores devem ser ainda mais lindas, saber que a minha tia já não verá mais os ipês me fez chorar. E é sempre assim: toda vez que eu vejo um ipê florescer, eu penso que me dá muita pena morrer.
A florada dos ipês é efêmera, assim como a vida é. Cabe a nós aproveitarmos o espetáculo. E os bons momentos com quem nos é caro.
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