ESPETÁCULO INFANTIL :
“O JOGO DO FOLCLORE”
Um dos principais desafios recorrentes do teatro para crianças é como encontrar a forma mais eficiente para comunicar com seu público-alvo; público esse cada vez menos infantilizado, mais tecnológico e mais exigente quando falamos em entretenimento que o mantenha “atento”e interessado.
Em “O JOGO DO FOLCLORE”, o combustível para acender a fogueira da criatividade lúdica infantil é farto. As estórias do folclore brasileiro são pouco exploradas por nossa sociedade, como produto de arte e diversão. Uma riqueza esquecida e quando lembrada, sempre de forma superficial.
A ideia central do texto – escrito pelo também diretor Rodrigo Ximarelli, costura bem os motivos para abordagem e desenvolvimento do “mote” principal: o folclore e a cultura regional. Os personagens dos palhaços e o universo circense é uma criativa e inteligente forma de criar uma linha conceitual para abordar o “realismo fantástico”, linha essa presente tanto no circo, quanto no universo que trata sobre curupira, boitatá e saci, entre outros personagens.
Quando transposto para a o palco, nessa encenação,a estética tão esperada do realismo fantástico e do “espetacular” não acontece, frustrando assim nossa expectativa. O público espera e acaba sentindo falta da plasticidade exuberante do ambiente mágico das fábulas e também do circo.
A direção prefere criar uma encenação simples, explorando a pureza das brincadeiras infantis, o que não é ruim, pois sentimos cada vez mais falta da alegria e da ingenuidade infantil do passado em dias atuais tão preocupantes, porém é de se questionar se não haveria formas estéticas mais criativas e menos utilizadas no teatro infantil para ilustrar esse texto teatral tão interessante.
Com esse formato, “O Jogo do Folclore” acaba repetindo fórmulas de teatro para crianças dos anos 80 e 90 bastante desgastadas. As marcas cênicas limitam-se a boca de cena e entradas e saídas das coxias criadas com itens cenográficos, o que revela uma falta de audácia em explorar cantos e planos de cena que seriam certamente explorados pelas crianças, caso fossem realmente jogos e brincadeiras infantis.
O elenco composto por Douglas Lima, Lucas Barbugiani e Shanny Segade poderia desenhar melhor as características de cada personagens, diferenciando bem suas personalidades, o que justificaria, por diferenças de “perfil”, cada forma de agir em cena. Mas, parecem ainda estar na superfície da construção onde os sentimentos e sensações não “passam por dentro” do ator, de forma orgânica.
Na primeira parte do espetáculo sentimos falta da linguagem circense na interpretação desses palhaços e desse universo do circo. Já na segunda parte do espetáculo, quando submergimos nas estórias das fábulas sentimos mais uma vez a falta do tom “sensacional”. Não há distinção entre primeira e segunda parte, além da manipulação dos lindos bonecos – uma ideia muito interessante – que também poderia ser melhor explorada, além de mantê-los em aparições simples sobre uma base.
A estrutura e a característica do texto entrega de bandeja uma série de saídas cênicas ricas e criativas que poderiam ter sido exploradas mas que escorregaram pelos dedos da direção. As músicas regionais e os números coreografados são momentos que deveriam ser ultra explorados com coreografias caracterizando em detalhes cada tema regional, buscando cada dança folclórica com seus movimentos e passadas reais, levando assim toda a pluralidade de nossa cultura ao público infantil.
A montagem opta por uma simplicidade de jogos e brincadeiras que encanta por nos remeter à uma infância pura e ingênua, repleta de liberdade de ideias, contos e criatividade. Uma leveza que temos que levar em conta, já que vivemos atualmente uma realidade dura assim singela nos leva à um lugar mais confortável e aconchegante.
Uma diversão garantida que poderia também ser cheia de encantamentos.
Cotação: 🌟🌟 🌟 Bom
Elenco: Douglas Lima, Lucas Barbugiani e Shanny Segade
Músicas Originais: Daniel Lellis Siqueira
Estúdio Musical Vox Music Studio
Desenho e Operação de Luz: Carlos Marroco
Operadora de Som: Luana Tonetti
Coreografias: Dimas Stecca
Visagismo: Gil Oliveira
Maquiagem: Rafael Santos
Figurinos: Márcio Laguna
Costureiras: Elga Dourado e Elizabeth Ferrari
Bonecos: Eric Fonseca
Boi Bumbá: Aline Binns
Produção Executiva: Bruna Silvestre
Cenário, Texto, Produção Artística e Direção: Rodrigo Ximarelli
Realização: Evoé Cia de Teatro
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